Arquivo do mês: maio 2013

A polícia mata

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A história de uma polícia que tem um alvo certo. Uma polícia que em cada ronda traz as heranças de uma ditadura que executava seus inimigos. A ditadura terminou, as guerrilhas inimigas do estado saíram das ruas, porém, o livro do jornalista Caco Barcellos apresenta a história de uma divisão das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota, uma divisão da polícia militar que mata mais do que bandidos. Mata, na maioria das vezes, inocentes. O livro-reportagem Rota 66 é resultado de cinco anos de investigação de Caco Barcellos acerca da atuação da polícia militar da cidade de São Paulo. Desde a criação da polícia militar, o período investigado é de 1970 a 1992.

A obra inicia com uma apresentação escrita por Narciso Kalili. O jornalista explicita que o autor do livro, Caco Barcellos, tem um lado na profissão. Um lado que segundo Narciso acompanha Caco desde o início da profissão no Rio Grande do Sul, o lado dos mais fracos, das vítimas. Esta breve apresentação de Caco evidencia características que marcaram a trajetória profissional do jornalista e são trabalhados no enredo desde livro. Caco se especializou em Jornalismo Investigativo e grandes reportagens, sobretudo, dedicado a tratar temas relacionados à injustiça social e a violência.

O livro de Caco Barcellos consegue aliar duas premissas do Jornalismo Literário, a fluência e a eficiência. Informa com profundidade através de um texto rico em detalhes, descrições e narrativas que transportam o leitor para dentro das inúmeras histórias de jovens mortos pela polícia militar em São Paulo. Além de descrever ambientes e situações de morte com riqueza de palavras e profundidade de emoções, o livro traz descrições densas dos personagens envolvidos. A personalidade, a rotina, os medos, anseios e principais características físicas e psicológicas, tanto das vítimas quanto dos matadores da rota. A narrativa de 274 páginas humaniza os números e contextos apresentados pela denúncia.

Além das descrições, Rota 66 contextualiza a situação de fundação da polícia militar e da rota em São Paulo. Muitos polícias militares que aparecem como personagem do livro eram parte do pelotão que combatia as guerrilhas no período da ditadura militar. O contexto de crescimento da criminalidade e dos crimes também foi tema do livro. Caco apresentou dados sobre os principais conflitos em que o Brasil se envolveu, mostrando que nenhum deles havia matado tantos civis quanto os matadores da rota. Também são apresentados dados que comparam o número de militares mortos e o número de civis assassinados pela polícia.
A história é narrada em primeira pessoa, pelo autor do livro. Caco narra além da denúncia, o cotidiano do jornalismo investigativo, as dificuldades, emoções e desafios de uma investigação. O livro é dividido em 23 capítulos, organizados em três partes: Rota 66, Os Matadores e os Inocentes.

Já no primeiro capítulo, o autor faz uma descrição detalhada do fato que torna-se o fio condutor do livro: o caso Rota 66. Caco narra a perseguição de três jovens em um fusca azul que, para a Rota, seriam suspeitos de cometer um furto e estar em um carro roubado. Na madrugada de abril de 1975, a história se desenrola envolvendo jovens que não são vítimas habituais dos policiais. Por um engano fatal da Rota, jovens de classe alta da cidade foram mortos brutalmente, sem ter cometido nenhum crime. A história de Noronha, Pancho e Augusto, os três jovens do fusca azul, chocou e impulsionou uma longa investigação apresentada no decorrer das outras duas partes do livro. No segundo capítulo do livro Caco mostra o envolvimento que possui com o tema. Descreve o personagem real do delegado Doutor Barriga, de quem ele e seus amigos ainda adolescentes precisavam fugir e provar não ser “vagabundo” para não ser preso.

A partir da investigação, Caco começa a delinear o perfil dos assassinatos. A polícia, assim como no caso Rota 66, geralmente alegava que o “bandido” teria reagido, disparado contra os militares, que agiriam em legítima defesa. O local do crime era violado para incriminar as vítimas. Mesmo atingidos por inúmeros tiros e visivelmente sem vida as vítimas eram levadas para o hospital e os médicos e enfermeiros coagidos a recebê-los antes de encaminharem os corpos para o IML.

Na segunda parte do livro, Os Matadores, é traçado o perfil dos maiores matadores da polícia militar da cidade de São Paulo. Estes policias faziam parte de um ranking construído através das investigações, tendo como ponto de partida os matadores do caso Rota 66, dos jovens do fusca azul. Caco demonstra uma das características implícitas no cotidiano da polícia: o prestígio de trabalhar na Rota e o apoio dos superiores aos matadores, através muitas vezes de menções honrosas transcritas no livro.

Além do perfil dos matadores, Caco conta histórias detalhadas e aprofundadas das vítimas desses matadores. A investigação para chegar aos dados do livro foi desenvolvida através de duas principais parcerias, Sidiney Galina – jovem que chamou a atenção de Caco pelo empenho na busca pelos pais – e do jovem jornalista Daniel Annenberg. Os dados do estudo de caso foram coletados incialmente nos boletins com tiroteio veiculados no jornal diário Notícias Populares, no Instituto Médico Legal, relato de familiares e arquivos da polícia e da Justiça Civil.

Nesta segunda parte do livro, Caco apresenta a maioria dos dados coletados na investigação. O autor percebe que são 265 mortos para cada ferido, 1300 vítimas foram encontradas sem documentação, porém, através do trabalho dele e de Daniel conseguem identificar 833 pessoas. Até abril de 1992, quando termina a pesquisa, foram identificados e perfilados 4179 mortos. O perfil dos mortos é Homem jovem, 20 anos. Negro ou pardo. Migrante baiano. Pobre. Renda inferior a 100 dólares mensais. Morador da periferia da cidade. Baixa instrução, primeiro grau incompleto. O contexto socioeconômico é criticado e demonstrado no livro.

A terceira parte do livro, Os inocentes, traz uma das descobertas mais chocantes do livro: a maioria dos mortos por policias da rota eram inocentes. De 3523 vítimas identificadas, somente 1496 tinham passagem pela polícia, 65% eram inocentes. A justificativa mais comum dos líderes da polícia militar paulista era que os militares matavam bandidos, sobretudo, homicidas e estupradores. Porém, a maioria não eram estupradores e autores de crimes com morte como alegavam as autoridades. Os assaltantes e ladrões ocupam as duas primeiras posições dos mortos pela polícia com passagem pela polícia, apenas 157 cometeram homicídio e dez eram estupradores. Outra questão levantada pelo livro é a morte de vítimas pela cor. De 3944 vítimas, 2012 eram negras ou pardas. No último capítulo, quando parece que haverá um fechamento, Barcellos continua a narrar histórias de vítimas da polícia e termina o livro descrevendo uma cobertura policial quando ele já era repórter da TV Globo.

Caco consegue contar uma história com profundidade, clareza, riqueza de detalhes e vocabulário. Expressa no livro uma das suas principais características, a busca por ouvir o lado da vítima, do injustiçado. Esse fio condutor fica claro durante a narrativa, os personagens não são apenas mortos, são histórias de vida. A contextualização histórica, política e social presente no livro aprofunda a problemática e levanta reflexões e questionamentos. Caco demonstra sinceridade ao descrever a rotina de investigação. Isto provoca um sentimento de credibilidade nas informações apresentadas pelo livro.

Caco Barcellos é gaúcho de Porto Alegre. Formou-se em jornalismo pela PUC-RS. Além de uma trajetória como repórter de impresso e Televisão, Caco é escritor de outra obra conhecida, O Abusado. Sua primeira obra publicada foi em agosto de 1982, intitulada Nicarágua, a Revolução das Crianças, sobre sua experiência com a revolução sandinista. Com o livro Rota 66, Barcellos recebeu o prêmio Jabuti de Literatura e suas matérias mereceram vários prêmios Esso de Reportagem e outros na área dos Direitos Humanos. Hoje, Caco Barcellos trabalha no programa Profissão Repórter da TV Globo.

A leitura do livro instiga a reflexão acerca do papel da polícia e de quem instiga a polícia. Diante de dados tão alarmantes, fica clara a necessidade de uma polícia que possa investigar, porém, que também seja investigada quando há indícios de abuso de poder. Mesmo com tantos números, que são bem mais do que números, são histórias de vida, milhares mortos sem nunca se quer ter cometido um mínimo delito, a polícia continua cometendo desmandos. O poder continua ditando de quem é a culpa, e infelizmente a cor da pele ou o saldo da conta bancária, para a polícia – e para a sociedade -, quer dizer mais do que o caráter.

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A cura

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Já faz mais de 2 mil anos desde que um homem veio até a essa terra, se fez pobre, esvaziou-se de todo glamour, abriu mão de ser Rei e foi o mais humilde a pisar o solo egoísta do planeta dos seres humanos. Este mesmo homem, mostrou que o importante não é juntar riquezas materiais e sim conservar o amor, guardar o coração e valorizar aquilo que não se pode ver, o que não tem preço, mas tem um inestimável valor. Invertendo a lógica de tudo, o homem mais manso que a humanidade já conheceu abriu mão do erro, do palco, do reconhecimento para chegar se achegar a uma cruz. Escolheu ensinar a empatia colocando-se no lugar de quem merecia estar ali. Ao lado de ladrões, ao invés de julgar, escolheu ensinar o que é sentir a dor do outro. Desde que Ele passou por essa terra compaixão tem um verdadeiro significado. Com sua morte, trouxe vida, trouxe perdão. Um homem que é a ponte que tira o ser humano do abismo, da miséria espiritual. É ponto e fonte, fonte de água viva, água que mata a maior sede e sacia o mais inquieto coração. Trouxe para corações condenados ao erro o favor imerecido, a graça que salva. Um sacrifício do tamanho exato de todo vazio humano. “E foi assim que Ele salvou o mundo”, pode parecer uma bela frase de histórias de super heróis, e é. Mas é uma história real, tão real quanto o sol que todos os dias não cansa de iluminar. Um super herói que coloca qualquer outro no chinelo, porque a sua arma é o amor. Jesus Cristo, o filho de Deus, o salvador, a cura.

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Um clamor por quem não pode clamar

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No Brasil você pode adorar quem quiser. Pode subir milhares de degraus de joelho para cumprir uma promessa. Vender sua casa para “ofertar” para os que pregam um deus que precisa disso ou pode simplesmente ter uma firme convicção de fé sem depender da aprovação de ninguém. No terreiro, na rua, no templo, na capela, na igreja, na mesquita ou em qualquer outro lugar que abrigue um culto, é permitida a livre manifestação da fé. Mas essa história ganha linhas bem diferentes quando deixamos de lado as fronteiras brasileiras.

Hoje, mais de 100 milhões de pessoas sofrem algum tipo de perseguição por professarem a fé cristã. Em países islâmicos radicais, como a Arábia Saudita, você pode ser sumariamente executado por crer em Jesus. Na Índia, você é excluído da sociedade assim que escolhe ser um cristão e fica a mercê da raiva de grupos fundamentalistas hindus. Na Coréia do Norte ainda existem campos de concentração, o país mais fechado do mundo pune mais de 70 mil cristãos, considerados inimigos do estado comunista, com trabalho forçado, tortura física e psicológica. Perto do Brasil, no ocidente, a Colômbia também sobre com isso. Pregar o evangelho em regiões controladas por grupos de narcotráfico pode significar uma sentença de morte.

São mais de 50 os países onde ser cristão é motivo suficiente para sofrer algum tipo de punição. Ainda que os dados sejam assustadores, a sombra de indiferença ainda paira sobre a população brasileira. Porém, todos os anos a Missão Portas Abertas, organização que serve a igreja cristã perseguida em todo o mundo, realiza o DIP – Domingo da Igreja Perseguida. É um momento de intensa programação com o principal objetivo de conscientizar a igreja brasileira da existência da muitos cristãos que não tem liberdade.

No último domingo, dia 19, a 8ª Igreja do Evangelho Quadrangular de Chapecó realizou um culto de missões com o tema da igreja perseguida em Chapecó. A igreja foi ambientada a fim de aproximar a realidade de perseguição com os cristãos que gozam de extrema liberdade. Foi proibida a entrada de bíblias e o culto foi realizado a luz de velas. O teatro “Mais perto – a perseguição é logo ali” abordou a realidade de perseguição na Colômbia, na Coréia do Norte e na China. Uma palavra sobre a responsabilidade de todo cristão na causa da igreja perseguida completou o culto. O culto foi organizado pelo Projeto Redenção.

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Jornalismo online em pauta

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É raro encontrar um veículo de comunicação impresso que não estenda seus olhares, atenções e ações para o online. Prova disso é a atuação do repórter online do Diário Catarinense, Juliano Zanotelli. No dia 03 ele foi o convidado especial da aula de jornalismo online do 7º período do curso da Unochapecó.

A convergências dessas mídias e modo de fazer jornalismo online foi o tema principal do bate papo descontraído com o repórter. Com uma lista de itens que deveriam ser abordados durante a noite, Juliano discorreu sobre dicas de como fazer jornalismo online, o relacionamento com as fontes, apuração dos fatos, a rotina no DC e a necessidade de ser um profissional híbrido e trabalhar com multimídia.

Em meio a uma enxurrada de perguntas dos acadêmicos, o repórter explicou que a sua função no DC é desempenhada quase totalmente de dentro da redação, é pelo telefone que ele desenvolve o relacionamento com as fontes e apura os fatos. A atenção e a sensibilidade para executar estas funções são imprescindíveis. Juliano respondeu as perguntas pautado em uma experiência profissional no online que começou com o ClicRBS em Chapecó.

Em meio a risadas, papos de jornalista e troca de conhecimento o Juliano se despediu, deixando explicita a opinião de que o importante, em qualquer mídia, é ter um bom texto. Uma boa redação sempre terá espaço. Seja no online, no impresso ou na TV, parafraseando Cláudio Abramo, importa que o jornalismo seja exercido diariamente com inteligência e cotidianamente com caráter.

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