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Quando a mente adoece

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 400 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais ou comportamentais. No Brasil cerca de 3% da população precisa de cuidados em saúde mental por transtornos graves.

Exclusão. Isolamento forçado e marcas de um tratamento radical. Tratamento dos médicos, da família e da sociedade. O ar sombrio dos corredores contrasta com a claridade das roupas. A paz do branco pouco representa o íntimo de cada coração que chega. Estar fora ou longe de si mesmo e a mercê de quem quiser de quem puder. Angústia, medo, agressividade e abstinência. Longe dos olhos da sociedade e à margem da representatividade coletiva.

A mudança das estruturas de tratamento de saúde mental, entretanto, não quer dizer necessariamente a mudança de valores sociais.

A mudança das estruturas de tratamento de saúde mental, entretanto, não quer dizer necessariamente a mudança de valores sociais.

Na contramão dos avanços no tratamento, ser um doente mental para grande parte da sociedade é sinônimo de estranheza, perigo e rotulações. Rótulos, isso é o que uma paciente que já se trata há 10 anos com diagnóstico de transtorno mental mais recebeu até hoje. Desde que a doença se tornou mais visível para o seu círculo de convivência, ela tem seu nome aliado ao adjetivo de “louca” ecoando pelas ruas, sobretudo pelas crianças. Na opinião dela, o mínimo que os pais deveriam fazer é explicar aos seus filhos que ela é doente, que sofre de uma depressão profunda. Pelo que ela recorda, o transtorno iniciou depois do parto, a memória um pouco falha se esforça para contar em detalhes o que a doença já lhe causou.

Andar sem roupa na rua, jogar pedra nas pessoas, agredir e ser agredida, e estar hoje sozinha. O filho está em um abrigo municipal e ela é cuidada por uma tia. Segundo ela, é a tia que lhe dá banho, cuida o horário dos remédios e acompanha o tratamento no CAPS II de Chapecó. O desejo dessa mulher de 38 anos é deixar de sentir os fortes efeitos da medicação, corpo inchado e dores constantes na cabeça. Foi assim que ela começou a conversa, relatando um anseio que subjetivamente é mais profundo, é um desejo implícito de sentir a recuperação mais forte do que as vozes que ecoam dentro e fora dela e que insistem em lhe chamar de “louca”.

Simone de Souza, coordenadora do CAPS II de Chapecó, trabalha há 13 anos diretamente com saúde mental, ela explica que o diagnóstico não é algo palpável como em outras doenças, ou seja não há nenhum exame, tomografia, raio x, exame de imagens, que possa comprovar. O diagnóstico é feito a partir da observação dos sintomas, muito embora, este diagnóstico demore para ser fechado, é analisado muitas vezes antes de um palavra final da equipe multiprofissional do CAPS, até porque a cada consulta os pacientes de transtorno mental podem mudar de sintomas, muito porque o diagnóstico cria um rótulo para o paciente.

Segundo Simome, hoje há 3500 pacientes ativos atendidos, embora haja cerca de 6500 pacientes cadastrados no CAPS II. Os diagnósticos recebidos pelo CAPS II são de psicóticos, neuróticos, esquizofrênicos, depressivos graves, risco de suicidas, bipolaridade, surtos psicóticos e transtorno afetivo bipolar. A enfermeira explica que os casos mais frequentes são relacionados a transtorno afetivo bipolar, depressão grave e risco suicida.

Doença mental

Assim como nos casos de hipótese de doença mental em crianças, a influência da estrutura familiar, ou da falta dela, é um fator determinante no desenvolvimento da doença mental em adultos. Muitos casos, segundo Simone, envolvem pacientes vítimas de maus tratos, famílias com envolvimento com bebidas, totalmente desestruturadas, pais agressores, mães submissas, e muitos são vítimas de abuso sexual.

Umas pacientes que aceitou dar entrevista no CAPS II não aceitou ter seu nome revelado, ela acredita que seu exemplo seja mais valioso do que seu nome que pode ser usado apenas para criar estereótipos. Na história dela muitos capítulos contribuíram para o quadro de transtorno mental que ela possui hoje. Há cinco anos ela deixou a vida de prostituição depois de perceber que isso causava um forte dano a sua saúde mental. Traumas e imagens que continuam a acompanhar a vida dessa mulher. Ela foi ao CAPS II porque uma amiga deixou o individualismo de lado e decidiu se envolver e ajudá-la. As crises agressivas, causadas por um quadro de depressão profunda, cada vez mais frequentes foram a mola propulsora do início do tratamento.

Hoje ela considera o caso estável, porém, tem consciência de que pode haver uma recaída em algum momento, como no final do ano passado quando cortou os pulsos em uma tentativa de morte.
Esta mulher destaca a relevância da participação da família em seu tratamento. Mora com os filhos, e principalmente uma delas ajuda a organizar a medicação da mãe. “É ela que me cuida, se não fosse por eles não sei se eu estaria na rua, nem sei se estaria viva”, comenta. Hoje a maior força para a recuperação desta mulher vem da neta de quarto meses, com orgulho ela exibe a foto da criança que parece ser uma dose imediata de remédio para capaz de abrir o único sorriso desde o início da entrevista.

O acompanhamento familiar segue sendo uma variável decisiva na recuperação ou estabilização do caso destes pacientes. Entretanto, Simone explica que são poucas as famílias que se comprometem com o tratamento. Segundo a psicóloga e coordenadora de Saúde Mental de Chapecó, Luciana Bertaso de Azevedo, “cada um de nós tem que assumir seus familiares, os pacientes de esquizofrenia não tem culpa, por exemplo, eles são doentes, assim como quem tem qualquer outra doença“. Simone comenta que a família precisa entender que o comportamento diferente dos pacientes não é “sem vergonhisse”. Neste sentido, os grupos familiares desenvolvidos nos três CAPS contribuem para o entendimento das famílias sobre as doenças e os tratamentos.

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Infância roubada

No CAPSad em Chapecó são realizados 250 atendimentos por mês. O trabalho multiprofissional contribui para a recuperação das crianças.

No CAPSad em Chapecó são realizados 250 atendimentos por mês. O trabalho multiprofissional contribui para a recuperação das crianças.

Medo. Insegurança. Descontrole. Agressividade e fobia. Socialmente estes sintomas podem ser aceitos com facilidade para um adulto. Na infância entende-se que há lugar para a paz, a imaginação e o sossego, onde as brincadeiras dão o tom para o crescimento. Entretanto, o entendimento de hipótese de doença mental na infância é maior do que a capacidade de divulgação e percorre um longo processo para a conscientização, tratamento e aceitação. Aos nove anos a escola de Daiana Rosetto era um lugar de segurança a aprendizado, até que uma aula marcou e determinou rumos diferentes para a sua vida. Depois de uma explicação da professora sobre o céu e o inferno, algo mudou no comportamento de Daiana.

Desde então, a lembrança boa da escola transformou-se em uma fobia, um medo recorrente que fez com que a menina perde-se todo um ano letivo e inicia-se um processo de transtorno de comportamento. O pai, Adir Rossetto, acompanhou desde o início a situação da filha e considera que a escola estava despreparada para lidar com um comportamento e interpretá-lo além da “birra”, como era comumente taxado nos corredores e salas da direção da escola. Hoje a filha tem 14 anos, e trata-se no CAPSi de Chapecó. Assim como a escola, o pai confessa que a família de Daiana também demorou a entender que se tratava de uma hipótese de doença mental e como tal exigia um tratamento adequado.

“Um dia, quando minha filha precisou mudar de sala e diretora, disse que se ela não parasse de chorar quem ia dar uma surra nela era a própria diretora”, relata Adir.

Adir mostra com orgulho a foto da filha. Ele conta com alegria que a filha é uma ótima aluna e não abre mão de fazer artesanato e dar aula de catequese.

Adir mostra com orgulho a foto da filha. Ele conta com alegria que a filha é uma ótima aluna e não abre mão de fazer artesanato e dar aula de catequese.

A maioria dos pais está longe de imaginar que as crianças também possam sofrer de uma doença mental. Porém, segundo especialistas, uma em cada vinte crianças tem algum tipo de transtorno mental. Segundo a Coordenadora do CAPSi de Chapecó, a psicóloga Cassíntia Gasparetto, por mês são atendidos em média 250 pacientes. Os diagnósticos mais comuns em Chapecó são os transtornos comportamentais, associados ao comportamento inadequado, agressividade, descontrole do impulso, brigas, em segundo lugar os transtornos relacionados à primeira infância. A depressão ocupa o terceiro lugar, e em quarto lugar pacientes com dependência química.

Segundo Cassíntia a dependência química deveria estar em primeiro lugar analisando a atual situação do município de Chapecó, porém, é uma demanda muito flutuante, que não chega até o CAPS. “É uma demanda que não tem adesão ao tratamento, eles não aceitam ser tratados, mas se viessem todos que necessitam deveríamos ter um CAPsi só para dependentes químicos infanto-juvenis. O tratamento acontece quando há consciência e apoio da família, o que raramente acontece”, destaca.

Em cada desenho um passo a mais para a recuperação dessas crianças. Os trabalhos manuais, terapias em grupo e conversas com psicólogos complementam as atividades médicas no CAPSi.

Em cada desenho um passo a mais para a recuperação dessas crianças. Os trabalhos manuais, terapias em grupo e conversas com psicólogos complementam as atividades médicas no CAPSi.

Na infância e adolescência o diagnóstico é tratado como uma hipótese, já que os especialistas acreditam que toda a criança tem a capacidade de se desenvolver bem, de ser um ser humano saudável e de se socializar de forma harmoniosa. Contudo, a estrutura familiar é um fator determinante para um crescimento saudável, “eles precisam receber os ensinamentos, visualizar os exemplos”, destaca a psicóloga Cassíntia. A problemática agrava-se na medida em que cada vez mais as crianças são criadas em meio à briga, pais alcoólatras, sem afeto ou limites.

“São raros os casos em que encontramos famílias estruturadas, com definições de papéis, onde a família se compromete, reconhece o distúrbio, e isso em todos os casos, isso se acentua na dependência química”, Cassíntia Gazarotto, psicóloga e coordenadora do CAPSi

Cassíntia destaca que este é o contexto da maioria das crianças que chegam ao CAPSi de Chapecó. “A gente compreende que as crianças e os adolescentes trazem sintomas do contexto familiar”, explica a psicóloga. Ela destaca que no caso da dependência química isso se intensifica, são raros os casos em que as crianças têm uma psicose grave sem ligação com um contexto familiar desestruturado. “São raros os casos em que encontramos famílias estruturadas, com definições de papéis, onde a família se compromete, reconhece o distúrbio, e isso em todos os casos, isso se acentua na dependência química”, comenta.

A imagem das crianças são preservadas, mas suas histórias são exemplo.

A imagem das crianças são preservadas, mas suas histórias são exemplo.

Noêmia Brizola da Rosa fala da neta de 15 anos com carinho. A menina sempre morou com na casa dos avós maternos. Naturalmente a figura da vó passou a ser a de mãe, hoje Noêmia já está acostumada a ser chamada assim pela neta. Amanda nunca conheceu o pai, e mãe verdadeira, filha de Noêmia, vive em outra casa com outros filhos e um marido que não aceita bem a convivência com a enteada. A desestrutura familiar nesse caso pode ter sido um agravante para o quadro de hipótese de transtorno comportamental e depressão apresentados pela menina desde os oito anos, quando as brigas constantes na escola denunciaram uma solidão que era resultado de uma doença. Até chegar ao atendimento no CAPSi, Noêmia tentou levar Amanda ao pediatra quando percebeu que o comportamento dela não estava de acordo com o que ela entendia por normalidade.

Foi difícil entender, difícil de aceitar e até hoje complicado para lidar. O transtorno de Amanda expressa por muitas vezes o contexto da falta de amor materno. Levou a menina a se isolar e hoje está envolvida em um namoro, quem nem a família nem os profissionais do CAPSi podem garantir que a experiência seja positiva para a menina.

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O vício que vira doença

Quem passa pela Rua Adolfo Konder em Chapecó percebe algumas movimentações entre as árvores e a discreta entrada do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas. A casa atrás de outro prédio não esconde nada do que a sociedade não queira ver. O portão sempre aberto é mais do que a entrada em uma casa, é o início de um caminho longo. Um caminho que inicia com a consciência própria, de algum familiar ou da própria sociedade de que chegou a hora de mudar o rumo. Uma estrada de recuperação que tem em cada pedaço da estrutura física, profissional e psicológica do CAPSad um significado.

O CAPSad atende cerca de 600 pessoas por mês. Rosa Maria Chiaradia, coordenadora do CAPSad Chapecó, explica que atendem mais pacientes com vícios relacionados ao álcool e crack, as outras drogas tem uma demanda menor. Rosa comenta que há uma diferença em relação a população de mais alta renda, geralmente eles chegam com vício em cocaína, maconha e êxtase. Já as pessoas com menos condições financeiras chegam com o vicio do crack e ocasionalmente o oxi.

A lembrança do trabalho com a comunicação é um impulso para recomeçar. Há 60 dias Alberto se trata do CAPSad.

A lembrança do trabalho com a comunicação é um impulso para recomeçar. Há 60 dias Alberto se trata do CAPSad.


“A visão da sociedade em relação ao CAPS é que aqui é um depósito de lixo e na verdade não é, são seres humanos que precisam de ajuda, sendo ajudados estão tentando voltar à sociedade.” Alberto Santos.

Alberto Santos resolveu que havia chegado a hora de buscar ajuda há cerca de sessenta dias. Desde os doze anos o vício de álcool e drogas ilícitas, como chá de cogumelo e o que ele chama de “auáca”, lhe tapou a visão e direcionou em um caminho onde muitas coisas foram ficando para trás. Aliviado, percebe que uma delas, a cada dia, tem ficado mais longe dos olhos: o vício que lhe tirou quase tudo. Lágrimas constantes nos olhos. Para que cada palavra que saía parece que uma fita precisa ser rebobinada em processo lento e doloroso. A dor de recordar as escolhas evidencia-se em um olhar que ao fundo transparece esperança, mas visivelmente expressa cansaço. Cansaço da bagagem longa carregada durante anos de entrega a um vício que hoje é encarado como uma doença. “Eu fui obrigado a vir para o CAPS, não obrigado por ninguém, eu me obriguei a vir, tomei a liberdade de procurar ajuda”, relata.

A liberdade é o que falta a um dependente químico, liberdade de ir e vir, de amar e cuidar, de ser cuidado e escolher abandonar o vício. “Eu abandonei casa, família, perdi tudo, ai eu vi que estava em uma situação irreversível, e foi aí que eu pedi ajuda para os meus filhos”. Nem para admitir a doença há liberdade, Alberto relata que o dependente acha que tem o controle sobre o vício, mas não tem, “sozinho é quase impossível sair”, comenta.

Em cada dedo a marca de um vício deixado para trás. Mariovaldo olha para os anéis como um compromisso de não voltar atrás.

Em cada dedo a marca de um vício deixado para trás. Mariovaldo olha para os anéis como um compromisso de não voltar atrás.


As marcas de anos de vicio estão visíveis nas mãos de Mariovaldo. Além das marcas do tempo ele resolveu tomar uma atitude que não o deixasse esquecer o que o vício fez com ele. Em cada dedo um anel, cada anel, representa um vício que ele teve. Dentre elas, a cocaína, o crack e o álcool. Com todos os dedos preenchidos, ele observa com orgulho e clareza do que cada anel significa para o seu tratamento, “os anéis estão aqui para eu olhar para eles e me lembrar, o anel não pode voltar atrás e nem eu”, comenta. Aos sete anos Mariovaldo aprendeu com o exemplo do pai que a bebida era o caminho a seguir, o álcool alargou as portas para a entrada de outros tipos de droga na vida dele.

Ouça parte da entrevista com o dependente químico, Alberto Santos.

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A doença mental

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Uma breve pesquisa no Google Imagens e o esteriótipo vem a tona, algo tão enraizado na sociedade que se torna comum. Digitando doença mental, as imagens que apareceram remetem à pessoas descontroladas, em camisas de força, com roupas brancas, isoladas da família e dentro de ambientes sombrios. Ser um doente mental para muitos é sinônimo de estranheza e perigo. Porém, é algo mais comum do que se possa imaginar.

Paulo Machado é psiquiatra há 30 anos em Chapecó, ele explica que em média 1% da população tem esquizofrenia, 6% depressão, 3% tem bipolaridade e cerca de 8% da população tem alguma dependência química. Essas são as doenças mentais mais comuns na sociedade. Essas patologias afetam o funcionamento do cérebro causando efeitos danosos nos pensamentos, no comportamento, nas emoções ou na capacidade de compreender informações. Para o médico, o preconceito que ainda está presente surge da forma como a sociedade se organiza para banir ameaças, a doença mental é encarada como uma ameaça e por este motivo também que por muito tempo foi escondida. Entretanto, o médico explica que toda doença é uma ameaça, a diferença é que os efeitos da doença mental são mais visíveis.

Segundo a Coordenadora de Saúde Mental de Chapecó, Luciana Bertaso de Azevedo, ao contrário do modelo hospitalocêntrico, a ideia não é tirar e esconder o paciente de doença mental como era feito antigamente nos hospitais psiquiátricos, “o transtorno mental ele pdoe ser estabilizado as pessoas podem voltar a trabalhar, tem sua família, a criança pode voltar para a escola”, destaca.

O ano de 1978 foi um marco no Brasil para a mudança no sistema psiquiátrico. Denúncias da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência iniciaram a construção coletiva de uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. Em 2001 a Lei Paulo Delgado foi aprovado, esta lei federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.

A partir de 2002 inicia a diminuição dos leitos em hospitais psiquiátricos e da desinstitucionalização dos pacientes com recorrentes internações. Segundo o Ministério da Saúde, em Santa Catarina no ano de 2005 foram contabilizados 800 leitos psiquiátricos em quatro hospitais psiquiátricos, 1,9% das vagas eram do SUS. Segundo Luciana, em Chapecó não há leitos para internação do paciente. A internação faz parte do tratamento, porém, é para um estágio extremo para a doença. Os pacientes de Chapecó que necessitam de internação são encaminhados para Palmitos, Quilombo, Ibicaré e os casos de determinação judicial vão para o IPQ em Florianópolis, antigamente chamado de Colônia de Santana.

Novo modelo de tratamento

Para substituir o modelo hospitalocêntrico foram instituídos os CAPS – Centro de Assistência Psicossocial. São locais de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses severos e graves. Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, álcool e drogas (CAPSad) e infantojuvenil (CAPSi). São unidades de saúde locais/regionalizadas. Oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional.

Em Chapecó funcionam três unidades, o CAPS I, CAPSad e o CAPSI. Porém a estrutura é pequena diante da demanda de pacientes, já que ainda está em fase de implantação o CAPSad III que funcionará 24 horas e realizaria internações de até sete dias. Esta série de reportagens contará algumas histórias de pacientes que se tratam nestes CAPS. Na próxima reportagem, apresentaremos histórias de dependentes químicos, casos que ainda não considerados doenças pela maioria da população.

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Série de reportagem | Saúde mental

Escolhi o jornalismo por acreditar na responsabilidade social e na capacidade de mudança que ele tem. Acredito nisso até hoje. A voz que o jornalismo é capaz de dar a quem vive a margem da sociedade me fascina. Essa é a proposta de uma série de reportagem que inicia hoje. A ideia foi sair da academia e ouvir, conhecer, descobrir e mergulhar em um mundo diferente do meu.

As histórias que você vai acompanhar são de pessoas envolvidas com a saúde mental em Chapecó. De doentes mentais, familiares, médicos psiquiatras, psicólogos até monitores de museus, tudo através do contato com os três Centros de Assistência Psicossocial – CAPS de Chapecó. Todos, em algum momento de sua vida tiveram contato com a doença mental e de um modo ou outro foram afetados por essa realidade. Até o fim da série serão quatro reportagens, na primeira vamos conhecer um pouco mais do que é a doença mental.

Chegou o momento de vermos além do que o esteriótipo de um louco nos remete. Uma das iniciativas neste sentido é uma exposição audiovisual organizada CAPS que atende pacientes com dependência química está com uma exposição chamada “Imagens do Álcool”. A mostra está no Museu Municipal Antônio Selistre de Campos. As fotos falam muito, revelam nuances de uma vida regada ao álcool. Além das fotografias registradas pelos próprios pacientes, um vídeo com depoimentos fica rodando durante a visitas. A dependência química será um dos pontos abordados por esta série de reportagens.

Exposição Imagens do Álcool, aberta para a visitação no  Museu Municipal Antônio Selistre de Campos

Exposição Imagens do Álcool, aberta para a visitação no Museu Municipal Antônio Selistre de Campos

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