Quando a mente adoece

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 400 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais ou comportamentais. No Brasil cerca de 3% da população precisa de cuidados em saúde mental por transtornos graves.

Exclusão. Isolamento forçado e marcas de um tratamento radical. Tratamento dos médicos, da família e da sociedade. O ar sombrio dos corredores contrasta com a claridade das roupas. A paz do branco pouco representa o íntimo de cada coração que chega. Estar fora ou longe de si mesmo e a mercê de quem quiser de quem puder. Angústia, medo, agressividade e abstinência. Longe dos olhos da sociedade e à margem da representatividade coletiva.

A mudança das estruturas de tratamento de saúde mental, entretanto, não quer dizer necessariamente a mudança de valores sociais.

A mudança das estruturas de tratamento de saúde mental, entretanto, não quer dizer necessariamente a mudança de valores sociais.

Na contramão dos avanços no tratamento, ser um doente mental para grande parte da sociedade é sinônimo de estranheza, perigo e rotulações. Rótulos, isso é o que uma paciente que já se trata há 10 anos com diagnóstico de transtorno mental mais recebeu até hoje. Desde que a doença se tornou mais visível para o seu círculo de convivência, ela tem seu nome aliado ao adjetivo de “louca” ecoando pelas ruas, sobretudo pelas crianças. Na opinião dela, o mínimo que os pais deveriam fazer é explicar aos seus filhos que ela é doente, que sofre de uma depressão profunda. Pelo que ela recorda, o transtorno iniciou depois do parto, a memória um pouco falha se esforça para contar em detalhes o que a doença já lhe causou.

Andar sem roupa na rua, jogar pedra nas pessoas, agredir e ser agredida, e estar hoje sozinha. O filho está em um abrigo municipal e ela é cuidada por uma tia. Segundo ela, é a tia que lhe dá banho, cuida o horário dos remédios e acompanha o tratamento no CAPS II de Chapecó. O desejo dessa mulher de 38 anos é deixar de sentir os fortes efeitos da medicação, corpo inchado e dores constantes na cabeça. Foi assim que ela começou a conversa, relatando um anseio que subjetivamente é mais profundo, é um desejo implícito de sentir a recuperação mais forte do que as vozes que ecoam dentro e fora dela e que insistem em lhe chamar de “louca”.

Simone de Souza, coordenadora do CAPS II de Chapecó, trabalha há 13 anos diretamente com saúde mental, ela explica que o diagnóstico não é algo palpável como em outras doenças, ou seja não há nenhum exame, tomografia, raio x, exame de imagens, que possa comprovar. O diagnóstico é feito a partir da observação dos sintomas, muito embora, este diagnóstico demore para ser fechado, é analisado muitas vezes antes de um palavra final da equipe multiprofissional do CAPS, até porque a cada consulta os pacientes de transtorno mental podem mudar de sintomas, muito porque o diagnóstico cria um rótulo para o paciente.

Segundo Simome, hoje há 3500 pacientes ativos atendidos, embora haja cerca de 6500 pacientes cadastrados no CAPS II. Os diagnósticos recebidos pelo CAPS II são de psicóticos, neuróticos, esquizofrênicos, depressivos graves, risco de suicidas, bipolaridade, surtos psicóticos e transtorno afetivo bipolar. A enfermeira explica que os casos mais frequentes são relacionados a transtorno afetivo bipolar, depressão grave e risco suicida.

Doença mental

Assim como nos casos de hipótese de doença mental em crianças, a influência da estrutura familiar, ou da falta dela, é um fator determinante no desenvolvimento da doença mental em adultos. Muitos casos, segundo Simone, envolvem pacientes vítimas de maus tratos, famílias com envolvimento com bebidas, totalmente desestruturadas, pais agressores, mães submissas, e muitos são vítimas de abuso sexual.

Umas pacientes que aceitou dar entrevista no CAPS II não aceitou ter seu nome revelado, ela acredita que seu exemplo seja mais valioso do que seu nome que pode ser usado apenas para criar estereótipos. Na história dela muitos capítulos contribuíram para o quadro de transtorno mental que ela possui hoje. Há cinco anos ela deixou a vida de prostituição depois de perceber que isso causava um forte dano a sua saúde mental. Traumas e imagens que continuam a acompanhar a vida dessa mulher. Ela foi ao CAPS II porque uma amiga deixou o individualismo de lado e decidiu se envolver e ajudá-la. As crises agressivas, causadas por um quadro de depressão profunda, cada vez mais frequentes foram a mola propulsora do início do tratamento.

Hoje ela considera o caso estável, porém, tem consciência de que pode haver uma recaída em algum momento, como no final do ano passado quando cortou os pulsos em uma tentativa de morte.
Esta mulher destaca a relevância da participação da família em seu tratamento. Mora com os filhos, e principalmente uma delas ajuda a organizar a medicação da mãe. “É ela que me cuida, se não fosse por eles não sei se eu estaria na rua, nem sei se estaria viva”, comenta. Hoje a maior força para a recuperação desta mulher vem da neta de quarto meses, com orgulho ela exibe a foto da criança que parece ser uma dose imediata de remédio para capaz de abrir o único sorriso desde o início da entrevista.

O acompanhamento familiar segue sendo uma variável decisiva na recuperação ou estabilização do caso destes pacientes. Entretanto, Simone explica que são poucas as famílias que se comprometem com o tratamento. Segundo a psicóloga e coordenadora de Saúde Mental de Chapecó, Luciana Bertaso de Azevedo, “cada um de nós tem que assumir seus familiares, os pacientes de esquizofrenia não tem culpa, por exemplo, eles são doentes, assim como quem tem qualquer outra doença“. Simone comenta que a família precisa entender que o comportamento diferente dos pacientes não é “sem vergonhisse”. Neste sentido, os grupos familiares desenvolvidos nos três CAPS contribuem para o entendimento das famílias sobre as doenças e os tratamentos.

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Infância roubada

No CAPSad em Chapecó são realizados 250 atendimentos por mês. O trabalho multiprofissional contribui para a recuperação das crianças.

No CAPSad em Chapecó são realizados 250 atendimentos por mês. O trabalho multiprofissional contribui para a recuperação das crianças.

Medo. Insegurança. Descontrole. Agressividade e fobia. Socialmente estes sintomas podem ser aceitos com facilidade para um adulto. Na infância entende-se que há lugar para a paz, a imaginação e o sossego, onde as brincadeiras dão o tom para o crescimento. Entretanto, o entendimento de hipótese de doença mental na infância é maior do que a capacidade de divulgação e percorre um longo processo para a conscientização, tratamento e aceitação. Aos nove anos a escola de Daiana Rosetto era um lugar de segurança a aprendizado, até que uma aula marcou e determinou rumos diferentes para a sua vida. Depois de uma explicação da professora sobre o céu e o inferno, algo mudou no comportamento de Daiana.

Desde então, a lembrança boa da escola transformou-se em uma fobia, um medo recorrente que fez com que a menina perde-se todo um ano letivo e inicia-se um processo de transtorno de comportamento. O pai, Adir Rossetto, acompanhou desde o início a situação da filha e considera que a escola estava despreparada para lidar com um comportamento e interpretá-lo além da “birra”, como era comumente taxado nos corredores e salas da direção da escola. Hoje a filha tem 14 anos, e trata-se no CAPSi de Chapecó. Assim como a escola, o pai confessa que a família de Daiana também demorou a entender que se tratava de uma hipótese de doença mental e como tal exigia um tratamento adequado.

“Um dia, quando minha filha precisou mudar de sala e diretora, disse que se ela não parasse de chorar quem ia dar uma surra nela era a própria diretora”, relata Adir.

Adir mostra com orgulho a foto da filha. Ele conta com alegria que a filha é uma ótima aluna e não abre mão de fazer artesanato e dar aula de catequese.

Adir mostra com orgulho a foto da filha. Ele conta com alegria que a filha é uma ótima aluna e não abre mão de fazer artesanato e dar aula de catequese.

A maioria dos pais está longe de imaginar que as crianças também possam sofrer de uma doença mental. Porém, segundo especialistas, uma em cada vinte crianças tem algum tipo de transtorno mental. Segundo a Coordenadora do CAPSi de Chapecó, a psicóloga Cassíntia Gasparetto, por mês são atendidos em média 250 pacientes. Os diagnósticos mais comuns em Chapecó são os transtornos comportamentais, associados ao comportamento inadequado, agressividade, descontrole do impulso, brigas, em segundo lugar os transtornos relacionados à primeira infância. A depressão ocupa o terceiro lugar, e em quarto lugar pacientes com dependência química.

Segundo Cassíntia a dependência química deveria estar em primeiro lugar analisando a atual situação do município de Chapecó, porém, é uma demanda muito flutuante, que não chega até o CAPS. “É uma demanda que não tem adesão ao tratamento, eles não aceitam ser tratados, mas se viessem todos que necessitam deveríamos ter um CAPsi só para dependentes químicos infanto-juvenis. O tratamento acontece quando há consciência e apoio da família, o que raramente acontece”, destaca.

Em cada desenho um passo a mais para a recuperação dessas crianças. Os trabalhos manuais, terapias em grupo e conversas com psicólogos complementam as atividades médicas no CAPSi.

Em cada desenho um passo a mais para a recuperação dessas crianças. Os trabalhos manuais, terapias em grupo e conversas com psicólogos complementam as atividades médicas no CAPSi.

Na infância e adolescência o diagnóstico é tratado como uma hipótese, já que os especialistas acreditam que toda a criança tem a capacidade de se desenvolver bem, de ser um ser humano saudável e de se socializar de forma harmoniosa. Contudo, a estrutura familiar é um fator determinante para um crescimento saudável, “eles precisam receber os ensinamentos, visualizar os exemplos”, destaca a psicóloga Cassíntia. A problemática agrava-se na medida em que cada vez mais as crianças são criadas em meio à briga, pais alcoólatras, sem afeto ou limites.

“São raros os casos em que encontramos famílias estruturadas, com definições de papéis, onde a família se compromete, reconhece o distúrbio, e isso em todos os casos, isso se acentua na dependência química”, Cassíntia Gazarotto, psicóloga e coordenadora do CAPSi

Cassíntia destaca que este é o contexto da maioria das crianças que chegam ao CAPSi de Chapecó. “A gente compreende que as crianças e os adolescentes trazem sintomas do contexto familiar”, explica a psicóloga. Ela destaca que no caso da dependência química isso se intensifica, são raros os casos em que as crianças têm uma psicose grave sem ligação com um contexto familiar desestruturado. “São raros os casos em que encontramos famílias estruturadas, com definições de papéis, onde a família se compromete, reconhece o distúrbio, e isso em todos os casos, isso se acentua na dependência química”, comenta.

A imagem das crianças são preservadas, mas suas histórias são exemplo.

A imagem das crianças são preservadas, mas suas histórias são exemplo.

Noêmia Brizola da Rosa fala da neta de 15 anos com carinho. A menina sempre morou com na casa dos avós maternos. Naturalmente a figura da vó passou a ser a de mãe, hoje Noêmia já está acostumada a ser chamada assim pela neta. Amanda nunca conheceu o pai, e mãe verdadeira, filha de Noêmia, vive em outra casa com outros filhos e um marido que não aceita bem a convivência com a enteada. A desestrutura familiar nesse caso pode ter sido um agravante para o quadro de hipótese de transtorno comportamental e depressão apresentados pela menina desde os oito anos, quando as brigas constantes na escola denunciaram uma solidão que era resultado de uma doença. Até chegar ao atendimento no CAPSi, Noêmia tentou levar Amanda ao pediatra quando percebeu que o comportamento dela não estava de acordo com o que ela entendia por normalidade.

Foi difícil entender, difícil de aceitar e até hoje complicado para lidar. O transtorno de Amanda expressa por muitas vezes o contexto da falta de amor materno. Levou a menina a se isolar e hoje está envolvida em um namoro, quem nem a família nem os profissionais do CAPSi podem garantir que a experiência seja positiva para a menina.

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O vício que vira doença

Quem passa pela Rua Adolfo Konder em Chapecó percebe algumas movimentações entre as árvores e a discreta entrada do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas. A casa atrás de outro prédio não esconde nada do que a sociedade não queira ver. O portão sempre aberto é mais do que a entrada em uma casa, é o início de um caminho longo. Um caminho que inicia com a consciência própria, de algum familiar ou da própria sociedade de que chegou a hora de mudar o rumo. Uma estrada de recuperação que tem em cada pedaço da estrutura física, profissional e psicológica do CAPSad um significado.

O CAPSad atende cerca de 600 pessoas por mês. Rosa Maria Chiaradia, coordenadora do CAPSad Chapecó, explica que atendem mais pacientes com vícios relacionados ao álcool e crack, as outras drogas tem uma demanda menor. Rosa comenta que há uma diferença em relação a população de mais alta renda, geralmente eles chegam com vício em cocaína, maconha e êxtase. Já as pessoas com menos condições financeiras chegam com o vicio do crack e ocasionalmente o oxi.

A lembrança do trabalho com a comunicação é um impulso para recomeçar. Há 60 dias Alberto se trata do CAPSad.

A lembrança do trabalho com a comunicação é um impulso para recomeçar. Há 60 dias Alberto se trata do CAPSad.


“A visão da sociedade em relação ao CAPS é que aqui é um depósito de lixo e na verdade não é, são seres humanos que precisam de ajuda, sendo ajudados estão tentando voltar à sociedade.” Alberto Santos.

Alberto Santos resolveu que havia chegado a hora de buscar ajuda há cerca de sessenta dias. Desde os doze anos o vício de álcool e drogas ilícitas, como chá de cogumelo e o que ele chama de “auáca”, lhe tapou a visão e direcionou em um caminho onde muitas coisas foram ficando para trás. Aliviado, percebe que uma delas, a cada dia, tem ficado mais longe dos olhos: o vício que lhe tirou quase tudo. Lágrimas constantes nos olhos. Para que cada palavra que saía parece que uma fita precisa ser rebobinada em processo lento e doloroso. A dor de recordar as escolhas evidencia-se em um olhar que ao fundo transparece esperança, mas visivelmente expressa cansaço. Cansaço da bagagem longa carregada durante anos de entrega a um vício que hoje é encarado como uma doença. “Eu fui obrigado a vir para o CAPS, não obrigado por ninguém, eu me obriguei a vir, tomei a liberdade de procurar ajuda”, relata.

A liberdade é o que falta a um dependente químico, liberdade de ir e vir, de amar e cuidar, de ser cuidado e escolher abandonar o vício. “Eu abandonei casa, família, perdi tudo, ai eu vi que estava em uma situação irreversível, e foi aí que eu pedi ajuda para os meus filhos”. Nem para admitir a doença há liberdade, Alberto relata que o dependente acha que tem o controle sobre o vício, mas não tem, “sozinho é quase impossível sair”, comenta.

Em cada dedo a marca de um vício deixado para trás. Mariovaldo olha para os anéis como um compromisso de não voltar atrás.

Em cada dedo a marca de um vício deixado para trás. Mariovaldo olha para os anéis como um compromisso de não voltar atrás.


As marcas de anos de vicio estão visíveis nas mãos de Mariovaldo. Além das marcas do tempo ele resolveu tomar uma atitude que não o deixasse esquecer o que o vício fez com ele. Em cada dedo um anel, cada anel, representa um vício que ele teve. Dentre elas, a cocaína, o crack e o álcool. Com todos os dedos preenchidos, ele observa com orgulho e clareza do que cada anel significa para o seu tratamento, “os anéis estão aqui para eu olhar para eles e me lembrar, o anel não pode voltar atrás e nem eu”, comenta. Aos sete anos Mariovaldo aprendeu com o exemplo do pai que a bebida era o caminho a seguir, o álcool alargou as portas para a entrada de outros tipos de droga na vida dele.

Ouça parte da entrevista com o dependente químico, Alberto Santos.

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A doença mental

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Uma breve pesquisa no Google Imagens e o esteriótipo vem a tona, algo tão enraizado na sociedade que se torna comum. Digitando doença mental, as imagens que apareceram remetem à pessoas descontroladas, em camisas de força, com roupas brancas, isoladas da família e dentro de ambientes sombrios. Ser um doente mental para muitos é sinônimo de estranheza e perigo. Porém, é algo mais comum do que se possa imaginar.

Paulo Machado é psiquiatra há 30 anos em Chapecó, ele explica que em média 1% da população tem esquizofrenia, 6% depressão, 3% tem bipolaridade e cerca de 8% da população tem alguma dependência química. Essas são as doenças mentais mais comuns na sociedade. Essas patologias afetam o funcionamento do cérebro causando efeitos danosos nos pensamentos, no comportamento, nas emoções ou na capacidade de compreender informações. Para o médico, o preconceito que ainda está presente surge da forma como a sociedade se organiza para banir ameaças, a doença mental é encarada como uma ameaça e por este motivo também que por muito tempo foi escondida. Entretanto, o médico explica que toda doença é uma ameaça, a diferença é que os efeitos da doença mental são mais visíveis.

Segundo a Coordenadora de Saúde Mental de Chapecó, Luciana Bertaso de Azevedo, ao contrário do modelo hospitalocêntrico, a ideia não é tirar e esconder o paciente de doença mental como era feito antigamente nos hospitais psiquiátricos, “o transtorno mental ele pdoe ser estabilizado as pessoas podem voltar a trabalhar, tem sua família, a criança pode voltar para a escola”, destaca.

O ano de 1978 foi um marco no Brasil para a mudança no sistema psiquiátrico. Denúncias da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência iniciaram a construção coletiva de uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. Em 2001 a Lei Paulo Delgado foi aprovado, esta lei federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.

A partir de 2002 inicia a diminuição dos leitos em hospitais psiquiátricos e da desinstitucionalização dos pacientes com recorrentes internações. Segundo o Ministério da Saúde, em Santa Catarina no ano de 2005 foram contabilizados 800 leitos psiquiátricos em quatro hospitais psiquiátricos, 1,9% das vagas eram do SUS. Segundo Luciana, em Chapecó não há leitos para internação do paciente. A internação faz parte do tratamento, porém, é para um estágio extremo para a doença. Os pacientes de Chapecó que necessitam de internação são encaminhados para Palmitos, Quilombo, Ibicaré e os casos de determinação judicial vão para o IPQ em Florianópolis, antigamente chamado de Colônia de Santana.

Novo modelo de tratamento

Para substituir o modelo hospitalocêntrico foram instituídos os CAPS – Centro de Assistência Psicossocial. São locais de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses severos e graves. Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, álcool e drogas (CAPSad) e infantojuvenil (CAPSi). São unidades de saúde locais/regionalizadas. Oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional.

Em Chapecó funcionam três unidades, o CAPS I, CAPSad e o CAPSI. Porém a estrutura é pequena diante da demanda de pacientes, já que ainda está em fase de implantação o CAPSad III que funcionará 24 horas e realizaria internações de até sete dias. Esta série de reportagens contará algumas histórias de pacientes que se tratam nestes CAPS. Na próxima reportagem, apresentaremos histórias de dependentes químicos, casos que ainda não considerados doenças pela maioria da população.

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Série de reportagem | Saúde mental

Escolhi o jornalismo por acreditar na responsabilidade social e na capacidade de mudança que ele tem. Acredito nisso até hoje. A voz que o jornalismo é capaz de dar a quem vive a margem da sociedade me fascina. Essa é a proposta de uma série de reportagem que inicia hoje. A ideia foi sair da academia e ouvir, conhecer, descobrir e mergulhar em um mundo diferente do meu.

As histórias que você vai acompanhar são de pessoas envolvidas com a saúde mental em Chapecó. De doentes mentais, familiares, médicos psiquiatras, psicólogos até monitores de museus, tudo através do contato com os três Centros de Assistência Psicossocial – CAPS de Chapecó. Todos, em algum momento de sua vida tiveram contato com a doença mental e de um modo ou outro foram afetados por essa realidade. Até o fim da série serão quatro reportagens, na primeira vamos conhecer um pouco mais do que é a doença mental.

Chegou o momento de vermos além do que o esteriótipo de um louco nos remete. Uma das iniciativas neste sentido é uma exposição audiovisual organizada CAPS que atende pacientes com dependência química está com uma exposição chamada “Imagens do Álcool”. A mostra está no Museu Municipal Antônio Selistre de Campos. As fotos falam muito, revelam nuances de uma vida regada ao álcool. Além das fotografias registradas pelos próprios pacientes, um vídeo com depoimentos fica rodando durante a visitas. A dependência química será um dos pontos abordados por esta série de reportagens.

Exposição Imagens do Álcool, aberta para a visitação no  Museu Municipal Antônio Selistre de Campos

Exposição Imagens do Álcool, aberta para a visitação no Museu Municipal Antônio Selistre de Campos

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Como as crianças veem os adultos que abusam do álcool

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Como as crianças veem um adulto que abusa do álcool? Uma campanha, criada pela agência Euro RSCG da Finlândia, apresenta personagens que poderiam ter saído de filmes de terror, mas representam pais que bebem demais e se tornam “monstros” na vida das crianças. A campanha foi desenvolvida para a ONG Fragile Childhood. Uma iniciativa para impressionar o público que combina com os dados alarmantes de violência contra as crianças dentro de casa, que são potencializados pelo consumo de álcool.

Quase um trailer de filme de terror para chamar a atenção para uma realidade problemática não apenas na Finlândia. Os “monstros” estão mais perto das crianças do que se imagina. A ONG Fragile Childhood, foi criada em 1986 na Filândia e seu objetivo é ajudar as crianças que sofrem com pais alcoólatras. Segundo a Agência, o objetivo da campanha é é aumentar a discussão geral sobre os efeitos de uso abusivo de álcool pelos pais na vida das crianças. A campanha tem ainda uma página no Facebook, um espaço de divulgação e discussão sobre o tema.

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A polícia mata

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A história de uma polícia que tem um alvo certo. Uma polícia que em cada ronda traz as heranças de uma ditadura que executava seus inimigos. A ditadura terminou, as guerrilhas inimigas do estado saíram das ruas, porém, o livro do jornalista Caco Barcellos apresenta a história de uma divisão das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota, uma divisão da polícia militar que mata mais do que bandidos. Mata, na maioria das vezes, inocentes. O livro-reportagem Rota 66 é resultado de cinco anos de investigação de Caco Barcellos acerca da atuação da polícia militar da cidade de São Paulo. Desde a criação da polícia militar, o período investigado é de 1970 a 1992.

A obra inicia com uma apresentação escrita por Narciso Kalili. O jornalista explicita que o autor do livro, Caco Barcellos, tem um lado na profissão. Um lado que segundo Narciso acompanha Caco desde o início da profissão no Rio Grande do Sul, o lado dos mais fracos, das vítimas. Esta breve apresentação de Caco evidencia características que marcaram a trajetória profissional do jornalista e são trabalhados no enredo desde livro. Caco se especializou em Jornalismo Investigativo e grandes reportagens, sobretudo, dedicado a tratar temas relacionados à injustiça social e a violência.

O livro de Caco Barcellos consegue aliar duas premissas do Jornalismo Literário, a fluência e a eficiência. Informa com profundidade através de um texto rico em detalhes, descrições e narrativas que transportam o leitor para dentro das inúmeras histórias de jovens mortos pela polícia militar em São Paulo. Além de descrever ambientes e situações de morte com riqueza de palavras e profundidade de emoções, o livro traz descrições densas dos personagens envolvidos. A personalidade, a rotina, os medos, anseios e principais características físicas e psicológicas, tanto das vítimas quanto dos matadores da rota. A narrativa de 274 páginas humaniza os números e contextos apresentados pela denúncia.

Além das descrições, Rota 66 contextualiza a situação de fundação da polícia militar e da rota em São Paulo. Muitos polícias militares que aparecem como personagem do livro eram parte do pelotão que combatia as guerrilhas no período da ditadura militar. O contexto de crescimento da criminalidade e dos crimes também foi tema do livro. Caco apresentou dados sobre os principais conflitos em que o Brasil se envolveu, mostrando que nenhum deles havia matado tantos civis quanto os matadores da rota. Também são apresentados dados que comparam o número de militares mortos e o número de civis assassinados pela polícia.
A história é narrada em primeira pessoa, pelo autor do livro. Caco narra além da denúncia, o cotidiano do jornalismo investigativo, as dificuldades, emoções e desafios de uma investigação. O livro é dividido em 23 capítulos, organizados em três partes: Rota 66, Os Matadores e os Inocentes.

Já no primeiro capítulo, o autor faz uma descrição detalhada do fato que torna-se o fio condutor do livro: o caso Rota 66. Caco narra a perseguição de três jovens em um fusca azul que, para a Rota, seriam suspeitos de cometer um furto e estar em um carro roubado. Na madrugada de abril de 1975, a história se desenrola envolvendo jovens que não são vítimas habituais dos policiais. Por um engano fatal da Rota, jovens de classe alta da cidade foram mortos brutalmente, sem ter cometido nenhum crime. A história de Noronha, Pancho e Augusto, os três jovens do fusca azul, chocou e impulsionou uma longa investigação apresentada no decorrer das outras duas partes do livro. No segundo capítulo do livro Caco mostra o envolvimento que possui com o tema. Descreve o personagem real do delegado Doutor Barriga, de quem ele e seus amigos ainda adolescentes precisavam fugir e provar não ser “vagabundo” para não ser preso.

A partir da investigação, Caco começa a delinear o perfil dos assassinatos. A polícia, assim como no caso Rota 66, geralmente alegava que o “bandido” teria reagido, disparado contra os militares, que agiriam em legítima defesa. O local do crime era violado para incriminar as vítimas. Mesmo atingidos por inúmeros tiros e visivelmente sem vida as vítimas eram levadas para o hospital e os médicos e enfermeiros coagidos a recebê-los antes de encaminharem os corpos para o IML.

Na segunda parte do livro, Os Matadores, é traçado o perfil dos maiores matadores da polícia militar da cidade de São Paulo. Estes policias faziam parte de um ranking construído através das investigações, tendo como ponto de partida os matadores do caso Rota 66, dos jovens do fusca azul. Caco demonstra uma das características implícitas no cotidiano da polícia: o prestígio de trabalhar na Rota e o apoio dos superiores aos matadores, através muitas vezes de menções honrosas transcritas no livro.

Além do perfil dos matadores, Caco conta histórias detalhadas e aprofundadas das vítimas desses matadores. A investigação para chegar aos dados do livro foi desenvolvida através de duas principais parcerias, Sidiney Galina – jovem que chamou a atenção de Caco pelo empenho na busca pelos pais – e do jovem jornalista Daniel Annenberg. Os dados do estudo de caso foram coletados incialmente nos boletins com tiroteio veiculados no jornal diário Notícias Populares, no Instituto Médico Legal, relato de familiares e arquivos da polícia e da Justiça Civil.

Nesta segunda parte do livro, Caco apresenta a maioria dos dados coletados na investigação. O autor percebe que são 265 mortos para cada ferido, 1300 vítimas foram encontradas sem documentação, porém, através do trabalho dele e de Daniel conseguem identificar 833 pessoas. Até abril de 1992, quando termina a pesquisa, foram identificados e perfilados 4179 mortos. O perfil dos mortos é Homem jovem, 20 anos. Negro ou pardo. Migrante baiano. Pobre. Renda inferior a 100 dólares mensais. Morador da periferia da cidade. Baixa instrução, primeiro grau incompleto. O contexto socioeconômico é criticado e demonstrado no livro.

A terceira parte do livro, Os inocentes, traz uma das descobertas mais chocantes do livro: a maioria dos mortos por policias da rota eram inocentes. De 3523 vítimas identificadas, somente 1496 tinham passagem pela polícia, 65% eram inocentes. A justificativa mais comum dos líderes da polícia militar paulista era que os militares matavam bandidos, sobretudo, homicidas e estupradores. Porém, a maioria não eram estupradores e autores de crimes com morte como alegavam as autoridades. Os assaltantes e ladrões ocupam as duas primeiras posições dos mortos pela polícia com passagem pela polícia, apenas 157 cometeram homicídio e dez eram estupradores. Outra questão levantada pelo livro é a morte de vítimas pela cor. De 3944 vítimas, 2012 eram negras ou pardas. No último capítulo, quando parece que haverá um fechamento, Barcellos continua a narrar histórias de vítimas da polícia e termina o livro descrevendo uma cobertura policial quando ele já era repórter da TV Globo.

Caco consegue contar uma história com profundidade, clareza, riqueza de detalhes e vocabulário. Expressa no livro uma das suas principais características, a busca por ouvir o lado da vítima, do injustiçado. Esse fio condutor fica claro durante a narrativa, os personagens não são apenas mortos, são histórias de vida. A contextualização histórica, política e social presente no livro aprofunda a problemática e levanta reflexões e questionamentos. Caco demonstra sinceridade ao descrever a rotina de investigação. Isto provoca um sentimento de credibilidade nas informações apresentadas pelo livro.

Caco Barcellos é gaúcho de Porto Alegre. Formou-se em jornalismo pela PUC-RS. Além de uma trajetória como repórter de impresso e Televisão, Caco é escritor de outra obra conhecida, O Abusado. Sua primeira obra publicada foi em agosto de 1982, intitulada Nicarágua, a Revolução das Crianças, sobre sua experiência com a revolução sandinista. Com o livro Rota 66, Barcellos recebeu o prêmio Jabuti de Literatura e suas matérias mereceram vários prêmios Esso de Reportagem e outros na área dos Direitos Humanos. Hoje, Caco Barcellos trabalha no programa Profissão Repórter da TV Globo.

A leitura do livro instiga a reflexão acerca do papel da polícia e de quem instiga a polícia. Diante de dados tão alarmantes, fica clara a necessidade de uma polícia que possa investigar, porém, que também seja investigada quando há indícios de abuso de poder. Mesmo com tantos números, que são bem mais do que números, são histórias de vida, milhares mortos sem nunca se quer ter cometido um mínimo delito, a polícia continua cometendo desmandos. O poder continua ditando de quem é a culpa, e infelizmente a cor da pele ou o saldo da conta bancária, para a polícia – e para a sociedade -, quer dizer mais do que o caráter.

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A cura

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Já faz mais de 2 mil anos desde que um homem veio até a essa terra, se fez pobre, esvaziou-se de todo glamour, abriu mão de ser Rei e foi o mais humilde a pisar o solo egoísta do planeta dos seres humanos. Este mesmo homem, mostrou que o importante não é juntar riquezas materiais e sim conservar o amor, guardar o coração e valorizar aquilo que não se pode ver, o que não tem preço, mas tem um inestimável valor. Invertendo a lógica de tudo, o homem mais manso que a humanidade já conheceu abriu mão do erro, do palco, do reconhecimento para chegar se achegar a uma cruz. Escolheu ensinar a empatia colocando-se no lugar de quem merecia estar ali. Ao lado de ladrões, ao invés de julgar, escolheu ensinar o que é sentir a dor do outro. Desde que Ele passou por essa terra compaixão tem um verdadeiro significado. Com sua morte, trouxe vida, trouxe perdão. Um homem que é a ponte que tira o ser humano do abismo, da miséria espiritual. É ponto e fonte, fonte de água viva, água que mata a maior sede e sacia o mais inquieto coração. Trouxe para corações condenados ao erro o favor imerecido, a graça que salva. Um sacrifício do tamanho exato de todo vazio humano. “E foi assim que Ele salvou o mundo”, pode parecer uma bela frase de histórias de super heróis, e é. Mas é uma história real, tão real quanto o sol que todos os dias não cansa de iluminar. Um super herói que coloca qualquer outro no chinelo, porque a sua arma é o amor. Jesus Cristo, o filho de Deus, o salvador, a cura.

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Um clamor por quem não pode clamar

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No Brasil você pode adorar quem quiser. Pode subir milhares de degraus de joelho para cumprir uma promessa. Vender sua casa para “ofertar” para os que pregam um deus que precisa disso ou pode simplesmente ter uma firme convicção de fé sem depender da aprovação de ninguém. No terreiro, na rua, no templo, na capela, na igreja, na mesquita ou em qualquer outro lugar que abrigue um culto, é permitida a livre manifestação da fé. Mas essa história ganha linhas bem diferentes quando deixamos de lado as fronteiras brasileiras.

Hoje, mais de 100 milhões de pessoas sofrem algum tipo de perseguição por professarem a fé cristã. Em países islâmicos radicais, como a Arábia Saudita, você pode ser sumariamente executado por crer em Jesus. Na Índia, você é excluído da sociedade assim que escolhe ser um cristão e fica a mercê da raiva de grupos fundamentalistas hindus. Na Coréia do Norte ainda existem campos de concentração, o país mais fechado do mundo pune mais de 70 mil cristãos, considerados inimigos do estado comunista, com trabalho forçado, tortura física e psicológica. Perto do Brasil, no ocidente, a Colômbia também sobre com isso. Pregar o evangelho em regiões controladas por grupos de narcotráfico pode significar uma sentença de morte.

São mais de 50 os países onde ser cristão é motivo suficiente para sofrer algum tipo de punição. Ainda que os dados sejam assustadores, a sombra de indiferença ainda paira sobre a população brasileira. Porém, todos os anos a Missão Portas Abertas, organização que serve a igreja cristã perseguida em todo o mundo, realiza o DIP – Domingo da Igreja Perseguida. É um momento de intensa programação com o principal objetivo de conscientizar a igreja brasileira da existência da muitos cristãos que não tem liberdade.

No último domingo, dia 19, a 8ª Igreja do Evangelho Quadrangular de Chapecó realizou um culto de missões com o tema da igreja perseguida em Chapecó. A igreja foi ambientada a fim de aproximar a realidade de perseguição com os cristãos que gozam de extrema liberdade. Foi proibida a entrada de bíblias e o culto foi realizado a luz de velas. O teatro “Mais perto – a perseguição é logo ali” abordou a realidade de perseguição na Colômbia, na Coréia do Norte e na China. Uma palavra sobre a responsabilidade de todo cristão na causa da igreja perseguida completou o culto. O culto foi organizado pelo Projeto Redenção.

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Jornalismo online em pauta

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É raro encontrar um veículo de comunicação impresso que não estenda seus olhares, atenções e ações para o online. Prova disso é a atuação do repórter online do Diário Catarinense, Juliano Zanotelli. No dia 03 ele foi o convidado especial da aula de jornalismo online do 7º período do curso da Unochapecó.

A convergências dessas mídias e modo de fazer jornalismo online foi o tema principal do bate papo descontraído com o repórter. Com uma lista de itens que deveriam ser abordados durante a noite, Juliano discorreu sobre dicas de como fazer jornalismo online, o relacionamento com as fontes, apuração dos fatos, a rotina no DC e a necessidade de ser um profissional híbrido e trabalhar com multimídia.

Em meio a uma enxurrada de perguntas dos acadêmicos, o repórter explicou que a sua função no DC é desempenhada quase totalmente de dentro da redação, é pelo telefone que ele desenvolve o relacionamento com as fontes e apura os fatos. A atenção e a sensibilidade para executar estas funções são imprescindíveis. Juliano respondeu as perguntas pautado em uma experiência profissional no online que começou com o ClicRBS em Chapecó.

Em meio a risadas, papos de jornalista e troca de conhecimento o Juliano se despediu, deixando explicita a opinião de que o importante, em qualquer mídia, é ter um bom texto. Uma boa redação sempre terá espaço. Seja no online, no impresso ou na TV, parafraseando Cláudio Abramo, importa que o jornalismo seja exercido diariamente com inteligência e cotidianamente com caráter.

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