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A doença mental

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Uma breve pesquisa no Google Imagens e o esteriótipo vem a tona, algo tão enraizado na sociedade que se torna comum. Digitando doença mental, as imagens que apareceram remetem à pessoas descontroladas, em camisas de força, com roupas brancas, isoladas da família e dentro de ambientes sombrios. Ser um doente mental para muitos é sinônimo de estranheza e perigo. Porém, é algo mais comum do que se possa imaginar.

Paulo Machado é psiquiatra há 30 anos em Chapecó, ele explica que em média 1% da população tem esquizofrenia, 6% depressão, 3% tem bipolaridade e cerca de 8% da população tem alguma dependência química. Essas são as doenças mentais mais comuns na sociedade. Essas patologias afetam o funcionamento do cérebro causando efeitos danosos nos pensamentos, no comportamento, nas emoções ou na capacidade de compreender informações. Para o médico, o preconceito que ainda está presente surge da forma como a sociedade se organiza para banir ameaças, a doença mental é encarada como uma ameaça e por este motivo também que por muito tempo foi escondida. Entretanto, o médico explica que toda doença é uma ameaça, a diferença é que os efeitos da doença mental são mais visíveis.

Segundo a Coordenadora de Saúde Mental de Chapecó, Luciana Bertaso de Azevedo, ao contrário do modelo hospitalocêntrico, a ideia não é tirar e esconder o paciente de doença mental como era feito antigamente nos hospitais psiquiátricos, “o transtorno mental ele pdoe ser estabilizado as pessoas podem voltar a trabalhar, tem sua família, a criança pode voltar para a escola”, destaca.

O ano de 1978 foi um marco no Brasil para a mudança no sistema psiquiátrico. Denúncias da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência iniciaram a construção coletiva de uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. Em 2001 a Lei Paulo Delgado foi aprovado, esta lei federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.

A partir de 2002 inicia a diminuição dos leitos em hospitais psiquiátricos e da desinstitucionalização dos pacientes com recorrentes internações. Segundo o Ministério da Saúde, em Santa Catarina no ano de 2005 foram contabilizados 800 leitos psiquiátricos em quatro hospitais psiquiátricos, 1,9% das vagas eram do SUS. Segundo Luciana, em Chapecó não há leitos para internação do paciente. A internação faz parte do tratamento, porém, é para um estágio extremo para a doença. Os pacientes de Chapecó que necessitam de internação são encaminhados para Palmitos, Quilombo, Ibicaré e os casos de determinação judicial vão para o IPQ em Florianópolis, antigamente chamado de Colônia de Santana.

Novo modelo de tratamento

Para substituir o modelo hospitalocêntrico foram instituídos os CAPS – Centro de Assistência Psicossocial. São locais de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses severos e graves. Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, álcool e drogas (CAPSad) e infantojuvenil (CAPSi). São unidades de saúde locais/regionalizadas. Oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional.

Em Chapecó funcionam três unidades, o CAPS I, CAPSad e o CAPSI. Porém a estrutura é pequena diante da demanda de pacientes, já que ainda está em fase de implantação o CAPSad III que funcionará 24 horas e realizaria internações de até sete dias. Esta série de reportagens contará algumas histórias de pacientes que se tratam nestes CAPS. Na próxima reportagem, apresentaremos histórias de dependentes químicos, casos que ainda não considerados doenças pela maioria da população.

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